quarta-feira, 20 de junho de 2012

grávida aos 12


uma introdução

andei sem palavras pelos últimos dias - acho que fiquei mais de um mês sem desaguar por aqui ou por qualquer outro lugar. emudeci. escrever é revolver muita terra ainda não fecundada, terra de dores enraizadas mais profundamente que se quer supor, terra de lágrimas fecundas. todxs temos o tempo de encarar os próprios fantasmas, e eu estive agarradas aos meus. passou o dia das mães, e eu queria ter falado sobre como ser mãe é padecer no machismo - esse seria o título do texto que eu tinha em mente. passou a marcha das vadias em brasília, e eu queria ter falado da dor e alegria de fazer parte duma manifestação feminista. passaram dúvidas e eu quis falar de amor; passaram dias e eu quis falar de saudade, de estar junto; passaram gentes, e eu queria ter falado de se apaixonar sem medida e por mais de uma pessoa. passaram paixões, sem que eu dissesse uma palavra sequer.

mas hoje eu resolvi falar.

parei pra pensar no nome desse blog, no que significam as minhas estrias, na companhia de meus e minhas fantasmas, e em como eu quero que eles e elas se tornem em qualquer outra coisa que não me assombre. eu não sei se vai dar certo, mas tentarei transformá-los em palavras.

eu quero falar sobre a minha gravidez, e quero falar sobre como isso foi parte da minha infância - não era adolescência, não era pré-adolescência, não era qualquer outra coisa que queiram dizer que foi. há um véu de ignorância e perversidade que cobre a gravidez precoce - o véu que precede a corda no pescoço, o silêncio imposto e toda a dor que é se fazer pessoa quando se tem uma outra pessoa em formação sob seus cuidados. e esse véu continua sobre a minha cabeça: eu o arranho, tento rasgá-lo, tento tirá-lo de cima de mim, mas os esforços são grandes e ás vezes eu simplesmente aceito me cobrir com ele, o agarro, e me aqueço como possível na sua aspereza.

o que eu estou me propondo não é escrever um texto, mas extrair de mim um tumor. não vai ser fácil. já não está sendo fácil, e ardem os olhos que choram em frente à tela desse computador. eu não sei pra quem eu falo, tampouco posso dizer que minha intenção é ser ouvida - mas eu falo. escrever não é uma opção, mas uma necessidade pra mim. a minha vida é o meu depoimento, e os depoimentos serão dados, por mais que se lhes queiram parar. o meu depoimento, eu fui dando aos gritos, aos choros, com citalopram, rivotril, lexotan, tequila, noites insones, e muitas, muitas lágrimas. as lágrimas continuam e continuarão - são, aliás, minhas maiores aliadas; que desçam livres e translúcidas, lúcidas e translivres, completamente eu, que em algum momento a gente precisa já não me esconder. mas decidi que, enquanto meu depoimento se faz, eu quero que saibam do que ele se trata. eu quero saber do que ele se trata.

eu jamais conseguiria falar da minha gravidez em uma única postagem. e esse blog parece não contar com um público assíduo - nem a blogueira parece ser das mais assíduas, no entanto, isso muda hoje -, mas, esse desabafo se fará em capítulos.

na minha primeira postagem aqui, eu disse que os passos se dariam naturalmente e que, em todo caso, esse é um blog e não um caminho. mas acho que eu estava enganada - e eu sempre desconfiei que estivesse mesmo. hoje eu dou um primeiro passo de um caminho inteiro pra dentro de mim, da minha história, das feridas que hão de permanecer intactas, pra me lembrar de lutar que elas não se perpetuem em outras vidas.

essa foi a introdução do que eu tenho pra dizer sobre a gravidez na minha infância.