sábado, 5 de maio de 2012

eu quero vomitar

eu quero vomitar.
eu tô passando mal.
eu tô passando mal de ódio e chorar não resolve. eu tô passando mal porque nós somos caladas, amordaçadas, assassinadas, estupradas. porque quando uma vagina nasce ela não ganha o mundo, ganha um fardo. porque estupro coletivo é arma de guerra. porque a guerra, minha amiga, tá do nosso lado. nós estamos em guerra. somos todas palestinas, somos todas de ruanda, todas temos fístula vaginal. e se a gente não vê isso, é porque nos taparam os olhos. o fardo nos cegou.
a sociedade é um homem branco e rico, e eu tô cansada de chupar as bolas dele. porque quando minha cabeça tá lá, nessa genitália imunda, eu não vejo que a única coisa que diferencia meu corpo de uma mulher com uma fístula vaginal é a geografia.
não podia ter sido eu: fui eu, só que eu não percebi.
e num mundo pautado na guerra, dizem que meu feminismo é radical. porque ninguém enxerga que, nesse lugar onde a primeira definição de um ser humano é dentro dos papéis homem/mulher, nesse mundo em que a merda duma genitália é a primeira definição do lugar que vc pode ocupar, ninguém enxerga que é nesse mundo que toda a lógica de dominação/opressão/violência/guerra se sustenta com o homem dominando/oprimindo/violentando/guerreando contra a mulher. as coletividades são todas enfraquecidas, quando não arruinadas, com essa porra do patriarcado.
hoje eu tô PUTA. eu quero vender meu corpo todo pro meu ideal. e eu não quero gritar pra ser ouvida: quero gritar pra fazer cumprir essa avidez por liberdade! porque eu estou inclinada a acreditar que o que diferencia um cara que me segue no seu carro durante meu trajeto apressado até o local "seguro" mais próximo de um cara que usa o estupro coletivo como arma de guerra é a geografia - mas talvez nem isso, talvez não haja mesmo diferença alguma. e o que diferencia ele de mim é que ele têm um momento de gozo ao chupar as bolas da sociedade - e eu não.

porque disse pra mim o homem cujas bolas querem me obrigar a chupar: seu feminismo é radical. e a única coisa que eu posso fazer é virar minhas costas pra ele, olhar pras feministas a minha frente e dizer: companheiras, ele continua falando! isso significa que não estamos sentindo raiva o suficiente!